Dentre todos os avanços da hematologia na última década, provavelmente uma das inovações com maior impacto se trata da aprovação do uso do Venetoclax (inibidor de BCL-2) em associação com hipometilante (HMA) – azaciditina/decitabina – ou citarabina em baixa dose, no tratamento de leucemia mieloide aguda (LMA) do paciente não elegível ao tratamento com quimioterapia de alta intensidade com a proposta curativa. A aplicação do Venetoclax é tão significante que recebeu a designação de “Breakthrough Therapy” (terapia inovadora) do FDA, processo que agiliza a análise dos estudos clínicos desenvolvidos para liberação de tratamentos com potencial tratamento para doenças graves.

Essa nova linha terapêutica causa tanta repercussão por dois principais motivos, o primeiro a natureza da doença, a LMA é possivelmente uma das neoplasias mais agressivas que assolam a humanidade, trata-se de doença que pode surgir de forma repentina, não conta com método de rastreio eficaz, com grande implicação na qualidade de vida do paciente acometido. A outra razão é que mesmo com essa doença de característica tão grave, os pacientes idosos não dispunham de nenhuma estratégia de tratamento eficaz, sendo que até recenetemente a melhor proposta era o uso de HMA isolado, com respostas pífias.

O Venetoclax é um medicamento da classe dos inibidores de BCL-2, capazes de ativar mecanismos de apoptose da célula neoplásica que haviam sido desligados pelo microambiente tumoral, com o retorno da morte das células da leucemia, há a possibilidade de controle da neoplasia.

Como os efeitos colaterais do Venetoclax + HMA são mais toleráveis em comparação com os efeitos da quimioterapia de alta intensidade, o esquema pode ser utilizado em pacientes idosos. O uso de Venetoclax + HMA neste cenário não foi aprovado com intuito curativo, mas é capaz de melhorar sobrevida global, e principalmente melhorar a qualidade de vida, como é observado com a diminuição da necessidade de transfusões no grupo que recebe o inibidor de BCL-2 em comparação ao grupo submetido ao uso de HMA isolado.

Mesmo que a proposta do desenvolvimento de Venetoclax + HMA não tenha sido inicialmente para curar a LMA, observamos que em alguns casos o paciente alcança a remissão completa da leucemia, quando isso acontece, um grupo muito seleto pacientes idosos, em boas condições saúde previamente ao diagnóstico da LMA, há a possibilidade do transplante de medula óssea (TMO) alogênico com intenção de levar a cura. É fundamental lembrar que neste caso o TMO tem suas particularidades, como a utilização do condicionamento de intensidade reduzida, também é aconselhado que o procedimento seja realizado em centros com muita experiência na faixa etária, pois os riscos são expecionalmente elevados.

O FDA e a Anvisa aprovaram a utilização do uso de Venetoclax + HMA ou citarabina em baixa dose para o tratamento de LMA em 2020, mesmo neste curto período de tempo é nítido o impacto da droga na vida dos pacientes. Aguardamos com expectativa a publicação de dados de estudos clínicos sobre a associação da droga em esquemas com intuito curativo.